quarta-feira, 23 de outubro de 2013

FALANDO DO BICO PRA FORA!
(Parte 1)

Sempre no mesmo dia (às sextas-feiras), na mesma hora (final da tarde) e no mesmo local (uma frondosa árvore) eles se reuniam para molhar o bico.
Eram muitos, chegavam aos bandos. Até quem não era convidado aparecia pra dar uma bicada, aliás, o que não faltava era bico.  
Mas qualquer um que aparecesse por lá era recebido de asas abertas.
O papagaio chegou falando igual maritaca, nervoso, por que ele veio voando para o encontro e não sabia que tinham colocado pardal pelo caminho que ele sempre costumava fazer!
O periquito chamou o papagaio de curió, por que todo mundo sabe que tem pardal pra todo lado! O papagaio falou pra ele sossegar a periquita! A garça achou graça! O papagaio, irritado, mandou a garça dá no pé!
A garça respondeu:
- “Quem dá o pé aqui é você Lôro”!
O papagaio xingou:
- “Eu vou dá é no pé do seu ouvido”!
O ganso tratou de alertar o papagaio:
- “Cuidado com a lei Maria da Pena”!
O papagaio ficou irritado com o ganso:
- “E se bobear eu ainda te afogo, ganso”!
Enquanto isso, lá em cima na copa (da árvore), o passo-preto ia dar o primeiro passo pra cantar a ararinha-azul, quando o azulão, marido dela, chegou! O azulão ficou vermelho de raiva e o passo-preto ficou com o tuiuiú na mão!
Lá embaixo, no pé da árvore, a galinha tava com o ovo atravessado por que não conseguia subir até os galhos. O tucano, que já estava bicudo, gritou lá de cima para a galinha ouvir:
- “Deus não dá asa à cobra”!
A galinha gritou de volta:
- “Mas eu não sou cobra, eu sou uma galinha”!
O tucano cutucou de novo:
- “Tô ligado que você é uma galinha... Tá procurando o pintinho”?
- “Pro seu governo tucano, fique sabendo que o pintinho foi ver o pai dele jogar bola”!
- “Foi ver o galo jogar? Tadinho, vocês não tem dó dele não?”.
- “Eu tenho pena é de você que vai ficar todo despenado quando cair  esborrachado aqui no chão, por que você tá bicudo”!
 - “Abaixa a crista aí galinha! Fica calma que logo passa uma cobra aí arrastando a asinha pro seu lado!”.
A galinha ficou puta da vida, mas deu o troco:
- “Cobra arrastando a asinha pro meu lado? Deus não dá asa à cobra, esqueceu?!”.
O avestruz, que estava lá embaixo ao lado da galinha, soltou uma gargalhada. O tucano, bicudo, quis saber:
- “Quem é esse pescoço que tá bicando a conversa e rindo aí?”.
O sabiá, ressabiado, suspirou: “Ave Maria...”.
“Ave Maria não, avestruz, eu sou um avestruz”, veio à voz lá de baixo.
Mas bate-boca, ou melhor, bate-bico, era normal de acontecer nesses encontros, afinal de contas, a reunião era regada a muita água que passarinho não bebe e muita música!
E dessa vez, o show ficou por conta da dupla Pica e Pau, que agitou a galera cantando o sucesso “Hoje a jiripoca vai piá”!
Em meio aquela festança toda, o joão-de-barro, pedreiro de mão cheia, só estava interessado em dar os últimos retoques na sua casa.
Na verdade ele tava enfeitando o pavão, por que sua casa já estava prontinha para morar... Só faltava uma companheira.


(Continua)

(Continuação)

(Continuação)

Faltava... Por que quando a coruja viu aquela mansão de barro, feita pelo João, ela ficou encantada e sua cabeça ficou girando! A partir de então, é lá que a coruja dorme! Junto com o João-de-barro, claro!
O urubu chegou pousando ao lado daquele ninho de barro e perguntou ao João se ali era uma pousada! A coruja saiu lá de dentro querendo imbicar o urubu:
- “Pousada? Você acha que aqui é a casa da mãe Joana”?
- “Não, eu acho que aqui é a casa do João, mas eu fiquei sabendo que você tá dormindo aí coruja...”!
- “Ah é? E eu posso saber como é que você ficou sabendo”?
O urubu fingiu de bobo:
- “Foi um passarinho verde que me contou”!
A coruja ficou uma arara:
- “E o que mais que o passarinho verde idiota te contou”?
- “Contou que tem casal aí que vai receber a visita da cegonha”.
- “Já tão inventando que eu vou ser mãe?!”.
O urubu comentou:
- “Não citaram nomes, mas independente de quem for, acho que você seria uma boa mãe, coruja”!
- “Vira essa boca pra lá urubu”!
- “Por quê? Tô com mau hálito”?
- “Não, você tá é com urucubaca pra cima de mim! Eu não quero saber de bebê por agora”!
O canarinho chegou trocando as pernas, aliás, trocando as asas e cantando de galo:
- “Quem não quer beber agora”?
- “Não é pro seu bico”! Respondeu a coruja impaciente!
O urubu quase botou as tripas pra fora de tanto rir!
- “Por que você tá rachando os bico urubu”?
- “Se eu fosse você, eu saía voando daqui canarinho, senão você vai tomar outra”!
- “Já tomei umas e vou tomar outras... Hoje eu quero-quero tomar todas, até chamar urubu de meu lôro”!
- “Não vai me chamar de lôro nada! Pode ir cortando suas asinhas meu amigo!”.
- “Por falar em amigo, vâmo ali comigo urubu, que eu vou te apresentar um canarinho amigo meu”.
- “Apresentar um amigo seu? Você não tá nem conseguindo falar canarinho”!
- “Quem não tá conseguindo falar é esse amigo meu! Ele até tentou, mas eu não consegui entender nada”!
- “Tá vendo como você já tá ruim canarinho!? Não conseguiu entender nem o que seu amigo tava falando, e olha que ele fala a sua língua”!
- “Ele não fala a minha língua não”!
- “Mas você disse agora que seu amigo também é um canarinho”!
- “Belga! Ele é um canarinho belga e não entende o português! E eu não entendo tico-tico nenhum que ele fala! Entendeu?”.
- “Entendi, não precisa falar mais nada... Vai lá e canta”!
- “Eu ir lá e cantar ele? Tá me estranhando urubu?”.
- “Cantar ele não! Vai lá e canta com ele por que quem canta seus males espanta!”.
- “Eu vou é beber mais”!
- “Bem, te vi, te aconselhei, mas se você quer beber mais, o problema é seu canarinho! Ema, ema, ema, cada um com seus problemas!”.
- “Você não vai molhar o bico urubu?”.
- “Meu estômago embrulha só de sentir o seu bafo de álcool”.
- “Ah falô viu... E o seu bafo de carniça é muito agradável”.
A festança continuava com a dupla Pica e Pau que começou a cantar os sucessos da banda “Asa de Águia”!      
A pombinha passou voando com a rolinha atrás, enquanto o gavião tentava comer o ovo da codorna! E naquela confusão toda, o pato acabou machucando a pata e entrou “pelicano”!
A festa terminou tarde da noite! Em pouco tempo, todos já tinham levantado voo e não se ouvia mais nenhum pio vindo da frondosa árvore! Mas na semana seguinte todos estariam reunidos ali de novo, para esse divertido encontro que era sempre do peru!



(Caju)

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O PARAÍSO DOS GUARDA-CHUVAS


Guarde bem o que eu vou dizer: Os guarda-chuvas têm vida própria!
Ao comprar um guarda-chuva, saiba que em breve ele não será mais seu! Por isso, é melhor não se apegar e nem criar nenhum vínculo sentimental com o seu guarda-chuva, por que quando você menos esperar, ele vai te deixar sem deixar pistas pra onde foi!
O guarda-chuva não nasceu para ter dono!
Não existe nenhum relato que comprove um caso de relação duradoura entre o homem e o guarda-chuva! 
O guarda-chuva é um objeto independente, dotado de um poder sobrenatural de se tornar invisível e desaparecer sem deixar vestígios!
Todos os dias, no mundo, milhares de guarda-chuvas somem para nunca mais voltar!   
Todo mundo já perdeu um guarda-chuva! Agora eu pergunto: Alguém já achou algum?
Pois é... E pensando sobre isso, eu cheguei à conclusão que deve existir um lugar desconhecido para onde vão todos os guarda-chuvas perdidos! E eu imagino que nesse lugar eles se encontram com as sombrinhas, constituem famílias e se proliferam, se multiplicam nesse mundo paralelo que chamo aqui de: “Paraíso dos Guarda-Chuvas”!
E minha imaginação vai mais longe ainda! Acho que o mundo será invadido e dominado pelos guarda-chuvas!   
Portanto, se você não quiser contribuir para que essa invasão aconteça, deixe seu guarda-chuva guardado!
Por que a qualquer momento, poderá cair sobre nós uma chuva de guarda-chuvas e seremos espetados por suas extremidades pontiagudas!
Mas quem sabe também, os guarda-chuvas retornem para nos resguardar e nos proteger dos riscos meteorológicos aos quais estamos expostos?
Bom, pense aí! E caso você descubra o segredo de para onde vão os guarda-chuvas, por favor, não guarde segredo!


(Caju)


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A OLIMPÍADA DO DIA-A-DIA


Toca o despertador! É dada a largada! Começa mais uma maratona!
Arremesso o cobertor para o lado e pulo da cama!
Em primeiro lugar, preciso chegar até o banheiro para conquistar o “trono”, ou melhor, sentar nele!
Mas no percurso entre o meu quarto e o banheiro, existem vários obstáculos que eu preciso superar: roupa, tênis, mochila, copo, prato, garfo... Tudo espalhado pelo chão!
Chego ao banheiro, ocupo o meu lugar no “trono”, solto o “bastão”, ligo o chuveiro e me atiro na água!
Peito, costas, dou uma arrancada na sujeira do corpo todo!
Saio rapidamente do banho! Cada minuto é importante!
Preciso garantir o meu lugar, sustentar minha posição!
E a disputa por uma vaga é muito grande!
Visto a camisa, a calça, coloco o sapato e saio correndo de casa!
O meu desafio agora é chegar até o ponto de ônibus!
Essa é uma etapa difícil, uma prova de rua que exige de mim, muita habilidade!
Salto à distância sobre buracos na calçada, contorcionismo para desviar dos retardatários, precisão ao atravessar avenidas entre os automóveis, enfim, são movimentos sincronizados, uma verdadeira ginástica para conseguir alcançar meu objetivo que é estar entre os
45 membros da comitiva que vai viajar até o centro da cidade!
Se eu ficar para trás, todo o meu esforço terá sido em vão e eu não quero perder viagem!
Dentro do ônibus, pendurado na barra, faço uma sequência de movimentos arriscados, evitando uma queda, até chegar o momento final da parada!
O ônibus abre a porta e num salto duplo, eu bato com um pé no meio-fio e caio com o outro já na calçada!
É a reta final!
Faço a última curva, à esquerda, contornando o poste da esquina! Cruzo a linha de chegada e carimbo meu passaporte, ou melhor, meu cartão de ponto!
Garanto assim, minha permanência no grupo de elite, ou seja, daqueles que estão empregados, nesse mercado tão concorrido, onde, qualquer falha, pode te desclassificar!



(CAJU)


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

PARABÉNS FILHO!

Ontem à noite, esperei o relógio marcar meia-noite para te dar parabéns pelo seu aniversário, te dar um forte abraço e lhe dizer algumas palavras! Mas quando entrei no quarto, meus olhos se encheram d’água, meus braços não se estenderam e minha voz ficou embargada! E mais uma vez, você viu seu pai chorar! Sou “manteiga derretida” mesmo e daí?! E não ri de mim não, me respeita que eu sou seu pai!
Pensando bem, eu não tenho moral nenhuma pra te pedir para não rir de mim, né filho! Afinal de contas, você é minha melhor plateia!
Diariamente, quando estamos à noite em casa, eu te uso de cobaia para testar os quadros, textos e personagens que crio e escrevo!
E você é uma plateia da melhor qualidade! Entende meu humor “non sense”, não me poupa de suas críticas e ainda me ajuda com suas ideias!
Você não é um cara qualquer, você é “o cara”! E não sou eu que digo isso, essa é a opinião de todos da família, é a opinião dos meus e dos seus amigos... E eu concordo com eles!
Eu, chato e implicante, nem pareço ser pai de um cara tão “de boa” como você! Aliás, quem vê a gente junto, não acredita que somos pai e filho, tamanha cumplicidade que temos um com o outro!
Na verdade somos mais que pai e filho, somos parceiros, amigos, confidentes, companheiros e claro, bagunceiros (nossa casa que o diga)!
Então é isso filho, te desejo toda a felicidade do mundo, por que é isso que você me proporciona! E não só desejo como faço de tudo para que você seja feliz!
TE AMO!


(Caju) 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Peço licença a você, Pai, para postar aqui no meu blog, uma das poesias do seu livro “Poesias Gerais”, lançado poucos dias antes de sua partida! A mamãe, e nós, seus filhos, estamos sofrendo muito com a sua ausência, mas estamos felizes e orgulhosos por você ter conseguido realizar esse antigo sonho de publicar seu livro!
Sabe, Pai, hoje o Dudu leu essa poesia lá no Graffite, e muita gente se emocionou! Estão me perguntando onde acham o livro pra comprar! Legal demais né Pai?! Tá arrasando hein! Os exemplares do livro que você deixou já acabaram, mas fica tranquilo por que nós vamos mandar imprimir                                                                          mais!
                                                             Tô chorando sim Pai... O motivo é justo.


REMORSOS

A você que é filho,
certamente ignora,
tudo o que lhe virá na mente,
quando ficar sem pai.
Pai quer que entenda,
nega, repreende,
pra que o filho aprenda.
Mesmo as discórdias,
os ressentimentos havidos,
irão livrá-lo do remorso
e atenuar seu choro.
Os ponteiros dos relógios
avançam implacavelmente,
rumo ao fim.
E olha! Não digo por mim!
Abrace agora enquanto é tempo,
enquanto há tempo
de carinho entre filho e pai.
Depois será ontem,
será passado,
será nunca.
Abrace-me agora,
enquanto vivemos
e estou a seu lado,
curtindo você.
Amando-o muito
nesta dimensão.
Depois então, só lembranças,
de que teve um pai.


(Antônio Pereira Magalhães)

terça-feira, 1 de outubro de 2013

ESTAMOS N’ÁGUA COM ESSA SECA!


O inverno acabou, mas o calor continua! Aliás, esse inverno foi um inferno! Que calor é esse?
“Quem tá na chuva é pra se molhar”! Mas cadê a chuva?

De acordo com a previsão do tempo, quem estiver esperando cair água, pode tirar o cavalinho da chuva!
Eu pergunto: Tirar o cavalinho de qual chuva?

O ser humano nunca se preocupou com a natureza e agora está pagando o pato! Aliás, os patos também estão sem água!
A coisa tá feia, o tempo fechou! O tempo fecha, mas não chove!

Chegou a primavera, chegou o final do mês, chegaram as contas pra pagar, só não chegou a chuva, ou melhor, até chegou mas não ficou nem pra tomar um cafezinho! Estava de passagem e passou tão depressa que só deixou o “ar da graça”, água que é bom, nada!

Como diria Roberto Carlos: “Tá uma brasa, mora”!
Moro sim! E onde eu moro é tão quente que esses dias bateram lá na porta de casa e quando eu abri, era um peixe pedindo um copo d’água! Coitado!
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto... e o peixe rapidamente lambeu minha cara!
Isso foi a gota d’água para mim, aliás, para o peixe!



(Caju)